sábado, 6 de maio de 2017

Estamos Ficando Doentes.

Hoje por algum motivo (ou por vários), senti saudades...sempre sinto e cada vez ela muda, vai e volta.
Hoje senti saudades de um modo específico, de um tempo que vivi logo ali atrás. Um tempo onde quase ninguém tinha celulares, quase ninguém tinha computador, as famosas "redes" não existiam. Onde para falar com alguém era por telefone fixo, telefone público tendo que utilizar fichas de metal, telegrama, cartas, ou...indo atrás da pessoa. 
Ah... cartas, o cheiro do papel, a letra de quem ecreveu, a ansiedade para abrir o envelope e ver o que era... Tudo isso se perdeu.
Quem sabe tenha se perdido pela questão do egocentrismo em busca de curtidas virtuais. Talvez tenha se perdido entre mundos onde ganhamos como obrigação estarmos conectados quase 24 horas por dia. Nos perdemos na falta de troca de olhares, nos perdemos na perda de tempo de dar tempo e ganhar qualidade de tempo em conversas pessoais. Não temos mais paciência para ouvir pessoas, para pensar nas palavras que irão ser ditas e enquanto uma fala a outra... olha o celular. Isso quando as duas (três, quatro, cinco...), não falam e olham os aparelhos celulares ao mesmo tempo, e deixam as outras pessoas falando ou não, pois nenhuma fala. Sim, tudo está se perdendo e junto com este tudo estamos nós.
Não quero fazer um discurso contra a tecnologia, pois se assim fosse nem deveria estar escrevendo aqui e agora, não quero ser um idiota, falso pregador que "desce a lenha" e utiliza estes meios pois, eu também os utilizo e acho que este é o processo natural da evolução de cada tempo. 
O meu discurso é sobre  o excesso da utilização descomedida de tais recursos que estão acabando com o "humanismo". 
Entramos em um tempo onde as mensagens precisam ser respondidas instantaneamente, caso contrário você está sujeito a perder uma amizade, um namoro, um parente... 
Entramos em um tempo onde o real passa a ter menos peso que o irreal.
Entramos em um tempo onde o egocentrismo, a ostentação, e as nossas próprias ideias se tornam obrigatórias nos enchendo somente com nossas próprias razões sem que tenhamos tempo para analisar as razões alheias.
Entramos em um tempo onde muito provavelmente o "status quo", passa a ser o tanto de curtidas que as pessoas tem em suas redes sociais baseadas muitas vezes em vitrines irreais... e assim, mais uma vez nos perdemos.
E assim, perdemos a graça das descobertas (descobertas de corpos, lugares, sabores, texturas), tudo parece tão trivial. Tudo parece tão (i)real. Muitas vezes se chega aoA ponto de ficarmos com os celulares, tablets e computadores em frente de uma tv que só passa ter a função de preencher com barulho o vazio que habita naquele espaço.
Vejam, até os namoros de um tempo não muito longe deste pareciam mais divertidos, mais gostosos, mais repletos de surpresas que se perdem no tempo pela falta de criatividade que acaba dominada por um mundo virtual onde parece que as máquinas nos dominam e ao mesmo tempo faz com que precisamos expor o quão somos felizes (ou tristes), para que as outras pessoas saibam e não para que tenhamos a certeza de saber isso e, isso é muito raso, e o raso não me fascina porque não há descobertas do novo.
Estes dias atrás um famoso aplicativo ficou fora do ar por alguns instantes, parecia o fim do mundo. Nunca ouvi e li tantos comentários em um curto espaço de tempo de pessoas que (quase), desesperadas perguntavam "O que aconteceu? Será o fim?". E na mesma hora me veio um leve desespero de lembrar que já vivi sem isso e sim, era no mínimo mais legal pois sabia me virar tão bem quanto!
Como me achavam quando não havia celular?
Como me achavam quando não havia whatsapp?
Como me curtiam quando não havia snap, instagram, facebook?
Tudo era mais real e sabia que era verdadeiro. O verdadeiro me encanta.
Para se ter uma real noção de como a superficialidade está em moda, hoje nestes aplicativos existe o tal do Status que dura apenas 24 horas!!!! - Me veja pelado por 24 horas, me veja matando um animal por 24 horas, me veja fazendo um bolo por 24 horas, me veja tomando um vinho por 24 horas, me veja ostentando por 24 horas, me veja transando por 24 horas, me veja, me veja, me vejaaaaaaaaaaa!!!!!! -   SOCORRO!!! 
Tem horas que me sinto um velho moralista, apesar de ter certeza em não ser, mas... estamos ficando doentes, perdendo o controle totalmente por muito tempo!
Está sendo comprovada a teoria da "miojização"(relatada por Cortella), pronto em 3 minutos e em 5 acaba dentro do bucho sem a gente lembrar do sabor, está sendo comprovada a "Liquidez" (relatada por Bauman), tenho medo disto e isto é fato. E assim as coisas vão indo,  e levamos esta lição quase que em prática real em questão de relacionamentos (amorosos, amigos, familiar), em questão de trabalhos, em questão de vidas que se esvaem ...
Muitas vezes me "pego" pensando, se é tudo que se perde ou se perdido estou eu?
Não existe limite de idade para a "doença", e sim talvez estejamos na grande maioria todos doentes.
Volto a dizer: tecnologia existe para ser usada, porém se for de forma descomedida...descomedido será, assim como tudo que é em excesso! 
Tudo que é demais, comprovadamente nunca fez bem e é assim que seguimos com olhares perdidos, reduzindo nosso tempo de ganho na vida. E é assim que seguimos deixando que o que realmente importa passe.
Passam os olhares
Passam as fases
Passam os momentos
E com tudo isso vamos engolindo vinho, engolindo comida, engolindo pessoas, engolindo qualidade de vida, engolindo arte, engolindo paisagens ao invés de degustar. E pela falta de tempo que nos é investido...passa a vida. 
Na verdade da verdade, acredito que chegamos a um tempo em que se faz necessário nos salvar de nós mesmos!
E isso é triste.