Era fim do dia, disse então para pegar as malas e entrar no
próximo trem que partiria em alguns instantes, porque não poderia partir. Ali deveria ficar,
segundo o que fizeram acreditar desde que havia chegado naquele lugar.
Ouviu então: “Vem comigo! Vamos conhecer e conquistar outros
mundos”
“Não posso”- respondeu – “Acredito que é isso que tem que
ser feito, o mundo que você propõe é um mundo de sonhos inatingíveis, acredito no meu modo de vida e nas regras as
quais criei a partir do que eu vi e conheço, me fizeram acreditar que... não
vou. Pensei que seria diferente, mas não foi.
Vá e não volte com suas ideias megalomaníacas sonhadoras, e quando eu
digo vá, vá mesmo, nem se atreva a olhar para trás. Desculpe minha sinceridade
mas, é o que eu acredito no momento”
O trem apitou uma vez
- Ainda há tempo
- Não há mais tempo
- Pode ser diferente, por que não tenta?
- Porque não quero
- Como tudo acaba assim? O sonho de ser realmente feliz , o
sonho de ir mais longe, o sonho...
- Não é isso que quero e quando digo não volto atrás, minha
palavra final é sempre assim. Agora entre no trem, não quero que você habite
aqui.
- Mas...
- Tchau
O trem apitou a segunda vez
As lágrimas escorreram pelos olhos que se tornaram
embaralhados, o sino da antiga estação começou a tocar, pessoas acenavam para
que subisse logo no vagão, muitas pessoas queriam que não olhasse para trás,
afinal escolhas, são escolhas e não podem ser mudadas. Certo?
Errado! Isto faz parte de crescer, isso faz parte da
evolução. As escolhas, tudo o que te disseram, tudo pode estar errado, porém
ficaria ali? Esperando na estação? E a indignação e tudo o que acreditara até
então? Permitira lhe agredir novamente. Sim, nos agredimos e nem percebemos.
Reencontrar todos os fatores que um dia lutou contra, deixar as lembranças
ruins dominarem é sinal que nunca seriam apagadas pelo simples fato de
acreditar no que acreditava e não abrir mão.
Se privara então de conhecer novos mundos, novas pessoas,
novos sabores. Talvez patinaria na lama pelo resto da vida devido suas
escolhas, suas crenças, por achar que suas decisões eram únicas e inabaláveis.
O trem apitou pela terceira vez
Ficou olhando a outra pessoa que subia no vagão e na porta
deste vagão ficou olhando quem ficara na estação. E a pessoa que ficara na
estação, olhava e pensava: Até que enfim a liberdade!
Mal sabia que a liberdade estava no trem que partia repleto
de sonhos de pessoas que se permitiam e quebravam regras impostas. Mal sabia
que a liberdade ia além de crenças, mal sabia que... Sentiu uma mão nos ombros:
“Boa escolha. Ficando aqui você terá tudo que precisa e sendo assim você será
realmente feliz, deixe partir o que não lhe faz bem, porque o que te faz bem
está somente aqui.”
Começou então a lembrar dos sonhos, começou a lembrar das
conversas, tentou silenciar a voz do coração de todas as formas mas foi em vão.
A voz do coração pulsava de um modo diferente.
O trem já se distanciava, a outra pessoa sumira para dentro
do vagão, olhava para o trem que partia e imaginara que não haveria mais lugar,
não haveria mais tempo. E se aquele fosse o último trem que fora passar ali? E
se aquela fosse a última oportunidade de partir e seguir novos rumos? E
se... Saiu correndo em disparada a fim
de alcançar o trem que já começava a ganhar velocidade. Correu, correu muito e
conseguiu se dependurar no último vagão. Quase caiu. Uma parte das pessoas que
estavam na estação gritava: “Volta, não faça a escolha errada”. Outra parte
gritava: “Vai se dar mal.” E ainda
poucas pessoas gritavam: “Vai, vai ser feliz de verdade, quebre as regras,
torcemos por você”
Subiu no vagão, esbaforindo passou pelo primeiro que subiu,
continuou andando olhando para todos os lados, começou a correr entre os vagões
até que a sua direita olhou, viu a pessoa que estava sentada ao lado da janela
olhando para o lado de fora, balbuciou “posso me sentar ao seu lado?” A outra
pessoa olhou prontamente, ao lado dela havia um lugar.
O silêncio de segundos que parecia uma eternidade era quebrado
pelo barulho das rodas no trilho. Foi quando ouviu a frase: “Senta, este lugar
é seu e eu estava te esperando”
As lágrimas mais uma vez encheram os olhos mas agora era de
felicidade. Nada tinha sido por acaso.
Se você me pedisse um conselho hoje, este seria:
Não perca seu trem, corra atrás do seu vagão, não perca a
chance de ser realmente feliz porque o
trem pode nunca mais passar. Para correr atrás do vagão é preciso coragem.
Coragem de arriscar, coragem para quebrar as regras que fizeram você acreditar,
coragem para quebrar as regras que você criou, coragem para assumir o lado
aventureiro de quem é capaz de partir para não mais voltar. Voltar às velhas
formas de viver, voltar às velhas formas de pensar, voltar a ser o que se era e
não o que se é, voltar para o que não te faz feliz. Tudo o que passa, passa se
você tiver coragem para isso.
Ouça a voz do vento.
Ouça a voz do seu coração.
Então corra, corra porque tem um lugar dentro de um desses
vagões que é seu e caso você não chegue...
será de alguém.
Ainda há tempo.
Nunca desista do que te faz feliz.
Boa viagem.