a) A personagem protagonista desta história não tem nome e muito menos gênero sexual justamente para que você possa se colocar no lugar dela.
b)Caso queira poderá escolher também como personagem a estrela, o golfinho, a gaivota. O que importa é que após sua primeira leitura, você escolha sua personagem, defina as outras e participe desta história.
c) Nesta página existe uma seleção
Boa leitura, boa viagem e obrigado por acompanharem a Fogueira das Vaidades.]
Caminhava durante muito tempo pela floresta na encosta da montanha. Logo abaixo o grandioso e velho mar. Já havia passado muitas e muitas vezes por ali, só não entendia como. Foi quando teve a brilhante ideia de sair de onde estava e caminhar em linha reta para ver onde chegaria. Caminhou contando seus passos. 10.898 passos para ser mais exato, 10.898 passos que fizera chegar novamente em uma outra encosta onde viu... o mar. Mediante a milhares de pensamentos que passavam por sua mente assim como o vento de um furacão, resolveu então dividir seus passos para chegar até o centro.
Caminhou 5.449 passos, virou para sua direita traçando uma reta perpendicular e caminhou. Chegou novamente a uma outra encosta. Não feliz com o resultado, deu meia volta e caminhou no sentido contrário que levou até a beira de uma outra encosta a qual quando chegou, já era noite.
Sempre conversava com as estrelas, um pouco mais com uma em específico, até que após estas caminhadas para descobrir onde estava perguntou:
- Como assim? Ando, ando e ando para sempre chegar em frente ao mar?
- Sim (respondeu a estrela), você está em uma ilha.
- E porque não avisaram antes?
- Porque nunca perguntou.
- Bom, a verdade é que cansei de andar em círculos, cansei deste lugar, sinto que minha liberdade é escassa e quero sair daqui, preciso conhecer novos mundos. Como faço?
- Pule no mar, ele te levará para outro lugar.
- Tá, mas... aqui tenho água fresca que nasce ali na pequena nascente, tenho comida das árvores frutíferas, tenho a cabana que construí para mim, os animais e as plantas que vivem aqui que me fazem companhia e até ajudam no que necessito. O que o mar tem a me oferecer?
- Novos mundos (retrucou logo em cima a estrela)
- E qual a segurança que você me dá?
- Não existe segurança, existe o se precaver e se jogar. Segurança? Levando em consideração a frágil vida que existe nesta terra e a maneira que o universo gira, sinto lhe afirmar que segurança é quase que um sinônimo de ilusão.
- E se eu me jogar e bater com meu corpo em uma pedra, e se eu me jogar e demorar algum tempo para encontrar água e comida, e se...
- Você pode ficar e uma árvore cair em sua cabeça durante um temporal, você pode ficar e de uma hora para outra acabar todas as suas regalias, a fonte secar, as frutas acabarem, tudo se tornar um ambiente seco entre as inúmeras possibilidades que podem acontecer. Nesse caso, você pode ficar e se contentar, você pode ficar e...
- Tenho medo
- O medo é necessário para que você possa se precaver, o medo é necessário para que você estude seus próximos passos, porém a partir da sua definição do que realmente quer, precisa se entregar pois sem entrega o medo te dominará e nesse caso o papel de quem domina quem é extremamente necessário para a próxima ação.
- Tudo que é meu está aqui, minhas crenças estão aqui, minhas ideias estão aqui, me levaram a acreditar que tudo isso é o certo e...
- Pare de reclamar (falou rispidamente a estrela), se for para ficar reclamando e achando que sua vida é só isso, fique aí e se contente com o que te derem. Para mim deu, preciso seguir viagem pelo espaço.
- Hei, só quero ser coerente em meu pensamento! (gritou)
(A estrela já distante, também gritou)
- Quem pretende ser sempre coerente no seu pensamento e nas suas decisões morais ou é uma rocha ambulante ou, se não conseguiu sufocar toda a sua vitalidade, um animal maníaco e fanático que perambula sozinho acreditando naquilo que é imposto se transformando em seu próprio boneco manipulável.
Aquela estrela se foi e no céu ficaram as outras estrelas e a lua que iluminava o mar. Sentou na encosta, olhou para baixo, as lágrimas escorriam dos seus olhos e em um surto de desespero, firmou em sua cabeça que seria impossível sair dali e resolveu ficar.
Um golfinho nadava beirando a encosta daquela alta ilha e consequentemente ouviu toda a conversa.
- Hei, vem! (disse o golfinho)
- Não posso (respondeu chorando)
- O que te impede? Eu te mostro novos mundos!
- Que parte você não entendeu que não posso?
- Pule! Onde estou são águas profundas, não tem pedras e caso você vá muito fundo eu te salvo.
Antes de responder à estrela, parou, olhou para o céu, olhou para o mar, deu um largo sorriso, respirou fundo e gritou:
- Tá, chega, vou pular, é hora de me entregar e conhecer novos mundos. É hora de me libertar! Agradeço tudo que este lugar me deu, agradeço por aqui todo este tempo ter estado e aprendido, agradeço por todos os ensinamentos, mas chegou minha hora de provar novas frutas, conhecer novas cores, novos lugares, chegou a hora de realmente me entregar!!! (gritou e parou repentinamente)
Calma (pensou), preciso pegar um pouco de água potável para levar.
(gritou para o golfinho) - Golfinho, me espere um pouco, vou pegar água potável para levar na viagem!
- Claro! (gritou o golfinho)
Ele saiu correndo até a árvore de cabaças, tirou uma cabaça, abriu, encheu de água e voltou. Olhou para baixo, viu o golfinho brincando feliz da vida, pulando, fazendo graça e de tudo aquilo fez despertar risadas e sorrisos.
- Golfinho, voltei!
- Vamos?
- Então, lembrei que preciso pegar comida também!
- Tá bom, mas agilize porque se a maré baixar, só conseguirá pular de novo amanhã a noite.
- Então vamos fazer o seguinte, deixamos passar este dia, durante o dia pego minha comida, mais água e volto amanhã a noite.
- Se preferir... sem problemas! Amanhã a noite estarei aqui.
Saiu correndo pulando de felicidade, toda ilha deveria saber! Contou a novidade para as plantas e para os animais que viviam ali, iria partir para uma nova aventura. Os amigos macacos ajudaram a pegar bananas e outras frutas para a viagem, os coelhos separaram raízes, ganhou até néctar colhido por um casal de beija flores. Alguns aconselharam a realmente ir, outros perguntavam se tinha certeza. Porém, em sua cabeça, naquele momento, pulsava a convicção de toda certeza do mundo. Era o ser mais feliz daquela ilha!
Passou o dia, chegara a noite e caminhou para encontrar o golfinho que estava na encosta. Os dois sorriram. Encheu os pulmões de ar, em frente ao mar e gritou:
- Tudo pronto!
- Venha (gritou o golfinho)
A noite estava estrelada e a amiga estrela estava lá, toda sorridente. Seus amigos da ilha também estavam ali na encosta da frondosa ilha para ver a nova jornada que iria se iniciar. Uns diziam "Isso não vai dar certo", outros gritavam: "Pula, pula", outros ainda diziam: "Que inveja".
Olhou para o céu, a estrela sorriu, fechou os olhos, respirou fundo e pulou.
Seu corpo no ar lhe causava uma sensação diferente, de felicidade e êxtase que há muito tempo não sentia, voava livre como um pássaro até que seu corpo tocou a água, agora era um peixe que mergulhava em profundezas não antes conhecidas. O golfinho mergulhou, cedeu suas costas para que se segurasse e voltasse a tona, o golfinho sorria, pulava e fazia estripulias saltando. O sabor de sair dali era surpreendente. Muitos sorrisos atrelado ao frio da espinha. "Borboletas no estômago" voavam cada vez mais rápido. Olhou para trás e viu uma ilha alta perdida no meio daquele oceano que lhe reservara muitas surpresas. Enquanto nadavam naquele velho mar de infinitas possibilidades, o dia amanhecia.
Olhou para trás e viu a ilha distante.
Uma das gaivotas que moravam na ilha voou até eles e começou a dizer:
- Você esqueceu de pegar cordas caso precise fazer uma jangada
- Não preciso tenho o golfinho
- Mas e se o golfinho resolver te deixar no meio do mar?
- Nunca faria isso dona Gaivota (respondeu o golfinho)
- A comida que você tem não vai dar para um dia (disse a gaivota)
- Nós pescaremos e logo mais estaremos em um continente lindo com vários braços de mar (retrucou o golfinho)
Enquanto isso, sem dizer nada, segurando a barbatana do golfinho, seus olhos fitavam aquele ser que nadava, intercalando com a gaivota.
Gaivota e golfinho, golfinho e gaivota, algo quente subiu em sua cabeça até que gritou:
- Pare! Me leve de volta a ilha, sem cordas realmente não tenho segurança e muito menos como fazer uma jangada, caso precise. Você é até legal golfinho, porém acho que não sabe pescar. Então realmente prefiro ter mais comida como segurança e não acho que você realmente esteja disposto a me levar a lugar nenhum.
Volte por favor. (gritou)
O golfinho, sem entender, acatando a vontade pedida, fez meia volta e voltou. Nadou novamente até a ilha da segurança.
Era fim de tarde, o por do sol estava lindo, a gaivota voava na frente, o golfinho nadava atrás levando consigo agora um peso incompreensível. De relance olhava para trás para ver o por do sol e seus olhos trocavam olhares com o outro par de olhos em despedida. Em seu dorso, sentia gotas quentes de lágrimas que caíam, a sábia gaivota olhou para trás, viu a cena e disse:
- Não chora, isto é o certo.
O golfinho por sua vez, não acreditava no que acontecia.
Chegaram na ilha alta da segurança. Era noite e não tinha lua e muito menos estrelas, o céu estava em plena escuridão.
Desceu das costas do golfinho, se despediu, pediu desculpas, nadou, não olhou para trás, chegou na encosta da ilha e começou a escalar para chegar até lá em cima o mais rapidamente.
O que aconteceu a partir daí?
Não temos relatos da história.
A única coisa que sabemos é que a estrela ainda aparece algumas noites porém ninguém daquela ilha fala mais com ela. E o golfinho, algumas poucas vezes passa ao lado da encosta acreditando que algum dia pule e se liberte.