quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Premonições (A história de uma abelha que não encontrava sua flor para retirar o mel).


E lá estava ele. Parado. Completamente estático olhando aquela tela de cinema da vida real.
Com seu bloco de anotações ao lado, de vez em quando escrevia. De vez em quando pegava o lápis e seu bloco de anotações na mão, e devolvia logo em seguida no mesmo lugar, sem nada anotar.

E lá estava ela. Na tela do filme. Totalmente em movimento mas com o pensamento estático. Vivendo o papel de miss Dorian Gray. De vez em quando ela esquecia qual a próxima fala e ficava calada. De vez em quando ela falava tudo de uma vez.

O filme ainda não havia chegado ao final. Porém não mais interessava para ele.

O filme ainda não havia chegado ao final, mas ela já não sabia se queria continuar atuando naquele filme.

Levantou-se e foi ao banheiro.

Resolveu sair da tela, largar aquele filme sem sal nem açucar e foi ao banheiro.

Se encontraram na porta dos banheiros enquanto ele lavava as mãos.
Sabiam que já se conheciam.
Ela parou e ficou olhando para ele.
Ele por sua vez levantou a cabeça e a viu pelo espelho. O mesmo espelho onde os olhares se encontraram.
Ela, não sabia o que falar.
Ele não sabia o que falar.
Ela abaixa um pouco o seu olhar.
Ele resolve se virar e encarar ela frente a frente.
Ela ainda não sabia o que falar.
Ele caminha na direção dela.
Ela ainda não sabe o que falar.
Ele para, frente a frente.
Ela abaixa a cabeça.
Ele ergue a cabeça dela levemente com uma de suas mãos, segurando pelo queixo dela.
Respiração ofegante, mãos geladas, os olhares se fundem...
Ele a beija. Um beijo em câmera lenta. Suas mãos passeiam pelo corpo dela causando sensações que até ela mesma desconhecia.
Ele para.
Ela vai falar algo.
Ele a encara.
Ela precisa falar algo.
Ele passa uma de suas mãos pelos cabelos dela.
A voz não sai.
Ele a abraça e os dois saem caminhando pela calçada iluminada por luzes amarelas...
O orvalho cobre eles com seu fino véu de água.
O silêncio impera, como se conversassem por telepatia, eles não dizem uma só palavra.
Por mais incrível que parecesse, se entendiam até no silêncio e isto quase os bastava.
E eles caminham noite adentro até o apartamento dele.
Ele abre a porta para ela que por sua vez entra.
Ele coloca uma música, abre um vinho, serve duas taças...
Os olhos dela se enchem de lágrimas.
Ele pega a taça da mão dela, coloca em cima do balcão. Olha para ela e diz:
- Dança comigo?
Ela sacode a cabeça afirmando que sim.
E eles dançam...
Ela sente a respiração profunda dele.
Ele sente as batidas do coração dela.
E eles dançam...
E eles fazem amor ali mesmo, no meio da sala. Com as luzes da sala apagadas. A única luz incidente que vem de fora  é a luz da cidade, que entra pela porta de vidro da sacada.
O dia amanhece...e lá está dona abelha que não consegue encontrar sua flor para retirar o mel, parou para descansar e assistiu toda a cena.
A abelha sai voando e...
Eles tem muito o que conversar...